sábado, 30 de abril de 2011

Riscos e Dermatoses na Indústria Farmacêutica

Na indústria farmacêutica são detectados riscos para o meio ambiente, para o consumidor e para o profissional envolvido com o processo produtivo.
           Para o meio ambiente, decorrem do armazenamento de grande quantidade de produtos químicos que podem ser tóxicos, explosivos e inflamáveis. Explosão ou incêndio provocados pelos produtos químicos pode gerar uma combinação de substâncias perigosas, resultando em nuvem tóxica que afetaria não só os trabalhadores de uma indústria, mas também a comunidade vizinha e, dependendo da sua extensão, atingiria dimensão catastrófica. O descarte de produtos químicos também se constitui em um problema grave pelos riscos que pode gerar para a comunidade.
 Quanto aos riscos para os funcionários da indústria farmacêutica, assumem relevância aqueles relacionados à exposição a substâncias químicas e suas conseqüências sobre os trabalhadores (NR-9). (2) Os outros tipos de riscos também são importantes e, de forma semelhante ao do tipo químico, dependem da tecnologia empregada e da organização do trabalho. Além dos problemas orgânicos diretamente relacionados à exposição a produtos químicos, o processo de trabalho na indústria farmacêutica acarreta riscos no âmbito da saúde mental. Estes riscos relacionam-se aos ajustes necessários que o trabalhador precisa fazer entre o trabalho prescrito e o real, assim como devido aos ritmos impostos em alguns setores de trabalho. Exemplos disso são os setores onde o trabalho é realizado de modo repetitivo e rápido, o que contribui para o surgimento de distúrbios comportamentais.
          Outra questão relevante na indústria farmacêutica é a dos riscos ergonômicos que geram para os trabalhadores sobrecarga física, problemas de posturas e lesões osteomusculares. Estes riscos são detectados principalmente no setor de embalagem, mas podem ser encontrados também nos demais, tais como laboratório, administrativo, almoxarifado, etc. Aspectos ergonômicos de medidas preventivas deveriam incluir seleção apropriada e treinamento de profissionais para as diversas atividades, projeto ergonômico do ambiente e considerações ergonômicas na organização do trabalho, tais como variações e interrupções de tarefas e posturas adequadas, dentre 208 empregados de uma indústria farmacêutica, 138 referiam dor nas costas. A posição sentada prolongada e o trabalho na embalagem ou no departamento de produção foram associados, ainda que de modo independente, com esta queixa.
          Existe ainda o problema das dermatoses em trabalhadores de uma indústria farmacêutica.A dificuldade em se estabelecer nexos causais entre incidência de dermatoses e exposição a medicamentos nos trabalhadores da indústria farmacêutica inspirou o interesse em descrever a prevalência do problema, sugerindo hipóteses sobre os fatores que podem estar interferindo no seu desencadeamento e/ou manutenção. Contribuiu também para o interesse a escassez de trabalhos nacionais mostrando freqüência e distribuição de dermatoses nesse tipo de indústria e suas relações com a organização e o processo de trabalho.
Pesquisa realizada pelo Ambulatório de Dermatoses Ocupacionais do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH), unidade da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
          Quanto aos principais sintomas referidos pelos trabalhadores alguns puderam ser considerados decorrentes das condições em que o trabalho era desenvolvido. Admitiram, também, como muito provável, a influência das condições de vida em geral desses trabalhadores, tais como: nível salarial, local de moradia, características do domicílio, alimentação, lazer, etc.

Sintomas apresentados



Cansaço físico
Dor nas costas
Cefaléia
Nervosismo
Dor nos membros inferiores
Esquecimento
Cansaço mental
Coceira nos olhos
Fraqueza muscular
Tontura
Dor nos membros superiores
Obstrução nasal
Insônia
Tosse



Fonte: RÊGO et al. "Saúde e Trabalho numa Indústria Farmacêutica" IN: Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, 1993, nº 79, vol. 21, p. 45


No Brasil, embora haja a suspeita de que a incidência seja alta, torna-se difícil a determinação dos índices dessas dermatoses devido a diversos fatores. Sobressai entre eles à escassez de serviços especializados no atendimento de casos suspeitos ou comprovados de dermatoses relacionadas ao trabalho, a subnotificação, a falta de preparo dos profissionais da área de saúde para a suspeita do nexo entre a lesão cutânea e a atividade profissional e a desinformação dos trabalhadores sobre os riscos decorrentes das atividades desenvolvidas. Seja qual for esse índice, tal incidência contribui, com certeza, para um grande número de demissões devido ao absenteísmo e à baixa produtividade, antes mesmo do estabelecimento do diagnóstico dessas doenças como ocupacionais. Com base em dados estatísticos dos países industrializados, ser esta a causa mais comum de acidente profissional no Brasil.
O trabalho na indústria farmacêutica entre as ocupações com alto risco para o desenvolvimento de dermatite de contato, tanto por irritação, como por alergia. No Brasil tem sido pouco estudada a relação entre saúde e doença na indústria de medicamentos.
Esta demanda compõe-se principalmente por funcionários da área de produção. Neste setor ocorre a manipulação de grande número de medicamentos, de modo simultâneo ou seqüencial, e não há um cronograma fixo de produção, fazendo com que as modificações possam ser até mesmo semanais. Além disso, o trabalho é desenvolvido em equipe, ou seja, quando um funcionário termina sua tarefa, vai ajudar em outras.
Esses aspectos da organização e planejamento da produção dificultam tanto na especificação da substância química cuja exposição apresenta nexo causal com a incidência de dermatoses, como na avaliação sistemática do ambiente de trabalho. Este é contaminado por produtos químicos nas suas diversas fases de produção (matéria-prima, produto intermediário, produto acabado), assim como por substâncias químicas que participam de sua composição. Em todas essas etapas eles podem provocar danos à saúde. O modo e a intensidade de exposição igualmente contribuem para a probabilidade da ocorrência desses agravos. Além disso, até mesmo o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI) pode propiciar o desencadeamento de doenças cutâneas.

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Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Augusto Cury E-MAIL: lu.name.lc@hotmail.com

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