segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Fotógrafo cego clica campanha publicitária

Teco Barbero, que já clicou peças para a campanha da Associação Desportiva para Deficientes, conta sobre sua trajetória e técnica de fotografia em filme criado pela agência.


A age. acaba de dar mais um passo para reforçar o trabalho da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), entidade que luta pela valorização e integração de pessoas com deficiência. A agência criou um documentário sobre Teco Barbero, deficiente visual que fotografou as peças da mais recente campanha da Associação. O filme, que pode ser acessado pelo site www.fotografocego.com.br ou pelo YouTube, conta sobre a aproximação de Teco com o universo da fotografia e a sua técnica de captação de imagens. Desde que entrou no ar, no ano passado, o documentário já registrou mais de 1000 mil acessos pelo site.


Teco Barbero é formado em jornalismo pela Universidade de Sorocaba. Tirou sua primeira foto aos 16 anos, numa viagem para a Suíça. "Foi só porque meu pai reclamou que ele não iria aparecer em foto alguma da viagem", diz Barbero. Voltou a clicar aos 21, quando participou de um curso de fotografia para cegos idealizado pelo documentarista Werinton Kermes. Lá, aprendeu a fotografar usando o próprio corpo. "Para um fotógrafo cego, o enaquadramento, o foco, a estética, pouco importa. O relevante é que pela foto posso mostrar a maneira que enxergo o mundo", sustenta o jornalista.


No Brasil, Teco Barbero foi o primeiro fotógrafo deficiente visual a clicar uma campanha publicitária. O filme da campanha, que foi veiculada no ano passado, mostrou Teco fotografando um cadeirante da ADD. Além disso, a agência criou um making of da campanha e um hotsite exclusivo com todas as informações da ação. Para dar continuidade à comunicação, a age. pretende convidar fotógrafos renomados do mercado brasileiro para clicar de olhos vendados.


Segundo Carlos Domingos, diretor de criação da age., mostrar que um deficiente pode fazer muito mais do que as pessoas pensam foi a maneira de chamar a atenção do público. "É motivo de muito orgulho poder participar de mais uma campanha impactante para a ADD, que vem gerando muitos comentários e um bom retorno para a instituição. Trabalhar com o Teco foi muito tranquilo, já que é um profissional eficiente e prestativo. Ao contrário do que as pessoas possam pensar, não foi mais fácil nem mais difícil trabalhar com ele. Foi mais um job, como qualquer outro", finaliza Domingos.


Os olhos são considerados alguns dos principais componentes para observar a imagem que se quer registrar, seja por meio da máquina digital, analógica e até mesmo as que estão integradas aos aparelhos celulares. Porém,pernambucanos e paulistas com diferentes deficiências visuais, mostram que é possível aprender fotografar e tirar uma bela foto, como qualquer outra pessoa que enxerga. Poucas pessoas sabem que é possível um cego fotografar, e aos que possuem esse conhecimento, souberam através da história do fotógrafo eslovênico Evgen Bavcar. Ele perdeu a visão aos 12 anos, devido a dois acidentes: o primeiro foi no olho esquerdo, onde perdeu a visão quando foi perfurado por um galho e o segundo no olho direito, ao ser afetado durante a explosão de um detonador de minas, onde brincava. Quando completou 17 anos começou a tirar fotos, hoje , com 65 anos, ainda continua a tirar belíssimas fotos, todas em preto e branco, como essa ao lado. É internacionalmente conhecido, pois suas exposições já rodaram o mundo, inclusive no Brasil, em 2007, onde também fez a divulgação do livro “Memórias do Brasil”, que retrata suas experiências fotográficas nos solos brasileiros.
No Brasil, existem dois cursos de fotografias para deficientes visuais, um em São Paulo e o outro em Recife. Em São Paulo, desde abril de 2008, o SENAC –SP disponibiliza o curso de Alfabetização Visual, voltada para fotógrafos cegos. A ideia surgiu graças aos inúmeros pedidos dos usuários do Espaço Braille da Biblioteca do Centro Universitário, que queriam algo totalmente novo e depois de meses conseguiram. O curso tem como objetivo estimular a reflexão, a imaginação e a participação dos alunos desenvolvendo sempre a auto-estima e abrindo novos canais de comunicação e expressão entre os deficientes visuais e o publico vidente, e isso ocorre com a ajuda do professor João Kulcsár. Os alunos não precisam pagar nada, e a turma é composta por no máximo 7 alunos, que possuem diferentes graus de deficiências visuais.
João Kulcsár é o professor desde inicio do curso. “A cegueira atrapalha pouco para um deficiente visual se transformar em fotógrafo. Mas ao passar do tempo e com toda essa tecnologia, não atrapalhará mais em nada”, afirma o professor.
Em recife, o curso surgiu graças à ideia de Sandra Araujo, que também é a professora do curso. “Em 2008, assisti um seminário de Acessibilidade em Museus, e então pensei que poderia ser feito um trabalho envolvendo fotografia e os deficientes visuais”, disse Sandra. Quando voltou a recife, ela fez um curso de tifologia, na Apec (Associação Pernambucana dos Cegos), ao terminar teve a oportunidade de oferecer o curso de fotografia para os deficientes visuais e a proposta foi aceita pela associação.
O curso Fotografia Sensível, teve inicio em 2009, sendo totalmente gratuito. É formado por quatros alunos, duas mulheres e dois homens, sendo apenas um monocular, que consegue enxergar com apenas um olho. A máquina utilizada é uma Canon A530, que pode ser utilizada por qualquer pessoa. Cada aluno tem um ponto fixo para apoiar a máquina e tirar a foto, Silvia Rodrigues, por exemplo, a coloca na altura do estômago e por meio principalmente do tato e da audição consegue bater a foto. O fotógrafo Evgen Bavcar prefere fixar a máquina na altura da boca e também se guia por outros sentidos. Os alunos ainda estão no segundo exercício com a máquina, e já se pode observar bons resultados, mas ainda são orientados na questão de enquadramento pela professora, em relação a quantos passos deve dar de distância da imagem desejada. O curso teve término em 2010,quando acontecer uma exposição das fotografias tiradas durante o curso, na própria APEC.
A aluna Silvia Rodrigues, hoje com 46 anos, perdeu a visão quando tinha apenas 18 anos. “Perdi minha visão por causa da retige pigmentar, dizem os médicos que adquiri por causa do casamento do meu avô e avó, pois eles são primos legítimos”, afirmou ela. Teve conhecimento do curso na própria Apec, localizada no Cordeiro, pois já é freqüentadora da associação. Quando ainda tinha a visão, Silvia nunca tinha se interessado por fotografia, mas quando ficou sabendo do curso se interessou. No inicio teve muita insegurança e medo de errar, mas com o passar do tempo, e a cada aula nova, conseguiu adquirir mais confiança.
A Universidade Católica de Pernambuco, também tem sido uma grande incentivadora para os fotógrafos cegos. Milton Pereira, aluno do curso de publicidade, se interessou em tirar foto, quando teve que pagar a disciplina de Fotografia. “Assim que terminei o período, fiz um pequeno curso sobre fotografia. Na verdade, gostaria de ter uma câmera em casa, mas como não tenho, aprendi também a tirar fotos com meu celular” diz Milton, que é cego desde sua nascença.
Graças às oportunidades que vão surgindo para pessoas cegas em relação à fotografia, é que questionamentos, dúvidas e espantos devem acabar ao saber que os deficientes visuais são capazes de serem excelentes fotógrafos.

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Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Augusto Cury E-MAIL: lu.name.lc@hotmail.com