sábado, 23 de julho de 2011

A inocência de uma crianças e as drogas

O dinheiro que elas ganhavam vendendo bombom no sinal era todo usado para comprar droga. As quatro irmãs - de 12, 13, 14 e 15 anos - fumavam crack e cheiravam cocaína até mesmo dentro de casa, na Barra do Ceará. A história foi contada ao O POVO por uma pastora evangélica que desenvolve projetos na comunidade. “Os pais sabiam e permitiam que elas usassem. A mais velha, inclusive, chegou a se prostituir para conseguir o dinheiro da droga”, diz.

 Histórias como essa têm se multiplicado no Ceará. Para se ter ideia, entre janeiro e maio deste ano, a Polícia apreendeu 2.769 pedras de crack com crianças e adolescentes. A quantidade já superou o total apreendido durante todo o ano de 2010 (2.585 pedras). Os dados são da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
 Ao todo, 301 crianças e adolescentes foram levados para a delegacia por tráfico ou uso de drogas em 2011 (até o dia 15 de junho), uma média de 12 por semana. Um público que, segundo a lei, deveria ter direito a tratamento em unidades especializadas. O problema é que, no Ceará, não existe nenhuma.
 A necessidade de se criar uma unidade do tipo foi apontada em relatório elaborado em janeiro deste ano pelo Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas (Cepod). “Não existe no Estado uma estrutura adequada para encaminhar crianças e adolescentes dependentes (químicos) ou para aqueles que cometeram atos infracionais”, cita o documento, encaminhado ao Governo do Estado.
 Sem um local adequado, o jeito tem sido encaminhar os adolescentes para comunidades terapêuticas comuns. Jovens e adultos dividem os mesmos espaços. “Não é o adequado”, lembra a promotora Fátima Valente, titular da 5ª Promotoria da Infância e da Juventude.
 “Quando a gente recebe aqui (na Promotoria) um caso grave, encaminha ofício para o Estado ou o Município e eles (poder público) têm de arcar com o tratamento. Como não há um local próprio, eles se encarregam de inserir o adolescente em alguma comunidade. Tem que cumprir aquela ordem judicial”, explica.
 A prioridade é enviar os jovens para comunidades terapêuticas onde há convênio com o poder público. Se todas as vagas estiverem ocupadas, o juiz encaminha para um outro centro de recuperação e o Município ou o Estado arcam com as despesas. “Mas isso é com adolescente. Criança não temos para onde mandar. Eu digo isso com tristeza”, comenta a promotora. O ideal, lembra ela, é que houvesse centros públicos de atendimento voltados exclusivamente para essa faixa etária.
 O Centro de Reabilitação Mão Amiga, em Maracanaú (Região Metropolitana), é um dos locais que recebem adolescentes que praticam atos infracionais. “De 2009 para cá, já vieram 27 adolescentes encaminhados pelo Ministério Público”, informa Luiz Favaron, secretário da instituição. “É complicado porque ficam misturados com os adultos. Tinha que ter um local separado, com profissionais especializados”, lembra.
 A Justiça já condenou o Município de Fortaleza a criar e manter em funcionamento um hospital para tratamento - em regime ambulatorial e de internação - de crianças e jovens dependentes químicos. A decisão judicial é decorrente de ação civil pública impetrada pelo Ministério Público Estadual em 1997. O Município recorreu várias vezes. Segundo a promotora Fátima Valente, o processo tramita atualmente na 4ª Vara da Infância e da Juventude.

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Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Augusto Cury E-MAIL: lu.name.lc@hotmail.com